segunda-feira, 25 de março de 2013

Demora para escoar soja eleva em 50% valor do frete




A falta de infraestrutura dos portos brasileiros para escoamento da produção nacional de soja tem causado impacto diretamente na rentabilidade das empresas exportadoras da oleaginosa, que precisam arcar agora com um custo não previsto em seu planejamento.

Um dos exemplos a comprovar esse prejuízo é o aumento do frete rodoviário e do demurrage - estadia para navios nos portos - que subiu por conta da demora em embarcar os grãos.

No caso do rodoviário, espera computada hoje em 60 dias até o porto de Paranaguá, no Pará, e de 32 dias, até Santos, o valor do frete saltou 50% este ano, quando comparado com 2012 - de US$ 100 para os atuais US$ 150, a tonelada do grão. Já o demurrage chega a custar cerca de US$ 20 mil a US$ 25 mil por dia.

Um executivo, que preferiu não se identificar, contou ao ao Brasil Econômico que todas as companhias processadoras e exportadoras do grão e seus derivados previam para essa safra um frete 30% abaixo do praticado pelo mercado, o que está levando muitas delas ao desespero.

"Os executivos estão se `descabelando´. Estão tomando prejuízo, trabalhando e perdendo receita. É um verdadeiro caos e não sabem como lidar com ele. O frete acabou com a margem de lucro das empresas", afirma, observando que 80% da safra matogrossense já foi vendida - a região concentra a maior produção de soja do país.

As empresas Cargill e Bunge foram procuradas, mas afirmaram que não comentam o assunto.

E pelo andar da carruagem, esse problema tende a se agravar no decorrer dos próximos dias já que há, segundo Daniel Furlan Amaral, gerente econômico da Associação Brasileira da Indústria de Óleo e Vegetais (Abiove), uma alta demanda também por outros grãos como o milho, sem contar o açúcar.

"O escoamento de todos esses produtos em um só período fez com que aumentasse a disputa pelo frete. As companhias não esperavam por uma variação de preço dessa magnitude", observa o executivo.

A safra brasileira de grãos subiu 45 milhões de toneladas no período de cinco anos, saindo de 135 milhões de toneladas para 180 milhões de toneladas.

Carlos Fávaro, presidente da Aprosoja, entidade que representa todas as companhias que trabalham nessa frente, chega a argumentar que a agricultura brasileira cresce a ritmo chinês, sendo o principal condutor do superávit da balança comercial brasileira nos últimos anos.

"Apesar de um cenário `positivo´ para a safra brasileira, vamos perder concorrência por termos uma infraestrutura de 40 anos que não permite o escoamento da produção. O Brasil está querendo envelhecer sem nunca ter se tornado competitivo", dispara.

Diante de um problema sem solução imediata, Fávaro alerta que a soja deixada de ser negociada agora trará na próxima negociação prejuízos diretos ao produtor.

"As trading vão colocar o custo de incapacidade de carregamento e quem paga é o produtor. A formação de preço será certamente menor."

Cristina Ribeiro de Carvalho
Fonte: Brasil Econômico