sexta-feira, 9 de março de 2012

Três milhões de toneladas de gesso agrícola são vendidas por ano

Utilizado desde os anos 90, o gesso agrícola passou a ser mais aplicado nos últimos anos. Em 1995, eram vendidas duzentas mil toneladas por ano. Agora, já são três milhões de toneladas. Porém, o uso indiscriminado pode ter efeito contrário e ainda prejudicar o solo. O gesso atua nas camadas mais profundas e permite que as plantas tenham raízes maiores, resistindo melhor à seca. A maioria dos agricultores do Cerrado usa o insumo, como o produtor Luiz Vicente Ghesti, que sabe que o resultado depende da aplicação correta. — Se usado em quantidade não recomendada, ele poderá carrear, ou seja, diminuir os nutrientes da camada superficial, exigindo adubação extra em função do ter retirado esse nutriente dessa camada — explica Ghesti.

Um dos motivos para o uso indiscriminado é a relação custo benefício. Na soja, por exemplo, para cada real investido o retorno chega a R$ 15 em oito anos, período que o produto continua agindo, sem a necessidade de reaplicar. O aumento na produtividade acaba sendo outro estímulo. — A melhor distribuição das raízes aumenta a produtividade. O algodão tem o dobro, o milho 50%, o trigo 50%, a soja 30%, o feijão 30% e a cana 30% também — avalia o pesquisador da Embrapa Cerrados Djalma Martinhão.

A sugestão dos pesquisadores da Embrapa é fazer sempre a análise do solo e seguir as orientações de um engenheiro agrônomo. — Se eu não fizer a análise do solo, posso estar colocando onde não é necessário e também posso por menos do que o necessário, e aí não vou ganhar em produtividade, o que ganharia se estivesse certo — conclui Martinhão.


Fonte: Canal Rural

quinta-feira, 8 de março de 2012

Efeitos da utilização de gesso e boro em plantas cítricas

A nutrição das plantas cítricas é prática reconhecida como um dos principais fatores de incremento de produtividade na cultura, seja pela aplicação de nutrientes via solo ou via foliar.
Como prática usual, na maioria das vezes, os macronutrientes são aplicados no solo e os micronutrientes são aplicados via folhas. Há hoje, no entanto, uma linha de pesquisadores que defendem a aplicação de micronutrientes via solo, principalmente o boro.
Outra prática, também pouco utilizada nos citros é a aplicação de gesso agrícola, provavelmente devido a uma antiga crença de que este “arrastaria” nutrientes, principalmente o potássio, para o subsolo, fora do alcance das raízes.
Baseado em informações fornecidas pelo Eng° Agr° Ronaldo Cabrera, que vem trabalhando já há algum tempo com a aplicação de gesso e boro em citros, buscando inclusive a recuperação de plantas com sintomas de CVC, o Departamento Técnico da Coopercitrus instalou alguns campos demonstrativos visando ao acompanhamento desta prática nos pomares.
Objetivos
Os objetivos da instalação destes campos foi demonstrar:
1) Distribuição do sistema radicular em diferentes profundidades no perfil do solo 
2) Comparar os teores de nutrientes em três profundidades do solo 
3) Comparar os teores de nutrientes nas folhas 
4) Comparar a produtividade nos diferentes tratamentos efetuados.
5) Realizar uma avaliação visual em relação aos sintomas de CVC e tamanho de frutos
Metodologia
Os resultados citados são referentes ao campo demonstrativo instalado no Sítio Nossa Senhora Aparecida (em 2003), de propriedade do cooperado Sebastião Ferreira, localizado no distrito de Turvínea, Município de Bebedouro - SP.
Foram realizados 3 tratamentos em um pomar da variedade Natal, com 7 anos de plantio, plantadas num espaçamento de 7 x 4 metros, num total de 357 plantas / ha. A dose de gesso utilizada foi de 2,0 toneladas / ha. A dose de boro utilizada foi de 4,0 Kg / ha sendo este aplicado sob a forma de ulexita (10 % de boro) e de ácido bórico (17% de boro). A ulexita foi aplicada sob a copa das plantas, de uma só vez, numa dosagem de 120 gramas/planta. O ácido bórico foi aplicado juntamente com o herbicida na dosagem de 23,5 Kg / ha, divididos em duas aplicações. Foram deixadas 4 ruas como testemunha onde não foi aplicado nem o gesso, nem qualquer fonte de boro. A aplicação do gesso foi realizada dia 30/10/2002. As aplicações do ácido bórico foram realizadas juntamente com as aplicações de herbicidas nos dias 20/11/2002 e 10/02/2003. A ulexita foi aplicada dia no dia 05/11/2002.
Para se avaliar a distribuição do sistema radicular, foi aberta uma trincheira de 1 metro de profundidade ao lado de uma planta em cada tratamento. Foi realizada uma avaliação visual, estimando-se a distribuição das raízes nas diferentes profundidades do solo.
Para avaliação dos teores de nutrientes no solo, foram coletadas 20 amostras em cada tratamento em 3 profundidades diferentes:0 a 20, 20 a 40 e 40 a 60 cm. Para avaliação dos teores foliares, foram coletadas uma amostra de 100 folhas em cada tratamento.
Visando avaliação da produtividade, foram escolhidas 14 plantas em cada tratamento, sendo descartadas os dois melhores e os dois piores resultados, sendo consideradas 10 plantas úteis por tratamento.
Resultados
Em relação à distribuição do sistema radicular no perfil do solo, foram obtidos os resultados demonstrados no gráfico 01 e nas fotos 01, 02 e 03.
Conforme pode-se observar no gráfico 01, na área testemunha, 80% das raízes estavam localizadas de 0 a 20 cm de profundidade, 15% de 20 a 40 cm, 5% de 40 a 60 cm e não havia nenhuma raiz (0%) na profundidade de 60 a 80 cm. 

No tratamento do gesso + ácido bórico, 55 % das raízes se encontravam na profundidade de 0 a 20 cm, 25% de 20 a 40cm, 15% de 40 a 60 cm e 5% das raízes se encontravam na profundidade de 60 a 80 cm. (Foto 02)
No tratamento do gesso + ulexita, foi encontrada a melhor distribuição e o maior aprofundamento das raízes no perfil do solo. Neste tratamento 35% das raízes se encontravam na profundidade de 0 a 20 cm, 35% de 20 a 40 cm, 20% se localizavam entre 40 e 60 cm e 10 % das raízes se encontravam entre 60 e 80 cm de profundidade. (Foto 03)
Quanto aos teores de nutrientes no solo, pode-se observar o comportamento dos mesmos nos dois tratamentos e na testemunha, observando-se os gráficos 02, 03, 04 e 05:
- No gráfico 02, percebe-se claramente o aumento nos teores de cálcio no solo, nos tratamentos que foi aplicado gesso, em relação à testemunha. No tratamento de gesso + ulexita, ocorreu um aumento de 80 % nos níveis de cálcio na profundidade de 0 a 20 cm, 85,7 % na profundidade de 20 a 40 cm e de 66,7% na profundidade de 40 a 60 cm em relação à área testemunha, onde não foi aplicado gesso. No tratamento de gesso + ácido bórico o aumento dos níveis de cálcio em relação à testemunha foi de 160% de 0 a 20 cm, 71,4% de 20 a 40 cm e de 66,7% na profundidade de 40 a 60 cm.
Em relação aos teores de boro no solo, verifica-se no gráfico 03, que os tratamentos com ulexita e ácido bórico, aumentaram os teores deste nutriente. Onde se aplicou a ulexita, o incremento nos níveis de boro foram de 132 % na profundidade de 0 a 20 cm, 246 % de 20 a 40 cm e de 431% na profundidade de 40 a 60 cm. Na aplicação de ácido bórico, esse aumento foi menor, sendo de 87% de 0 a 20cm, 34,6% de 20 a 40 cm e de 41% de 40 a 60 cm de profundidade.
No gráfico 04, pode-se notar que a aplicação de gesso cumpriu um de seus papéis, que é a eliminação do alumínio tóxico na sub-superfície do solo.
Quanto a lixiviação do potássio, que seria provocada pela aplicação de gesso, nota-se no gráfico 05, que nada ocorreu neste sentido, pois os teores deste nutriente mostram-se praticamente sem diferença entre a testemunha e os dois tratamentos em que se utilizou o gesso.
- Quanto aos teores de boro nas folhas, verifica-se no gráfico 06 que as duas formas de aplicação deste elemento via solo, promoveram aumento dos teores nas folhas. O tratamento que utilizou ácido bórico, via barra de herbicida, promoveu um aumento de 19% do nível de boro, quando comparado à testemunha (que recebeu boro via adubação foliar, como normalmente se faz na propriedade) e o tratamento que utilizou ulexita aplicado sob a copa das plantas, aumentou em 62% os teores de boro nas folhas, também em relação à testemunha
- Quanto à produtividade, pode-se verificar, conforme gráfico 07 que também os dois tratamentos promoveram aumento considerável na quantidade de caixas produzidas por planta. Neste caso, a aplicação de gesso + ulexita promoveu aumento de produtividade de 15,15%, enquanto no tratamento de gesso + ácido bórico este aumento foi de 26,67%.
- Em relação aos sintomas de CVC, pode-se verificar uma maior brotação das plantas, mesmo dos ramos atacados, com sensível melhoria do enfolhamento dos ponteiros. Verifica-se também, um melhor aspecto visual das plantas e nota-se um menor quantidade de frutos pequenos, sintoma típico da CVC, nas áreas tratadas com gesso + boro.
Conclusões
Com base nos dados obtidos neste campo demonstrativo, pode concluir que a aplicação de gesso + boro é uma prática que pode ser adotada nos pomares cítricos, principalmente pela excelente relação custo/benefício obtida. 
Em relação à forma de boro aplicada juntamente com o gesso, pôde-se verificar que o maior incremento dos níveis deste nutriente no solo e na folha foram obtidos com a aplicação de ulexita, porém, neste primeiro ano, a maior produtividade foi obtida com a aplicação de ácido bórico. Isso se explica, talvez, pela maior solubilidade do ácido bórico em relação à ulexita, ficando este mais rapidamente disponível para as plantas. 
Desta forma, verificou-se que a aplicação de gesso e a aplicação de boro via solo, aumentaram os teores de nutrientes tanto no solo, quanto nas folhas de citros e promoveram um sensível incremento na produtividade, já no primeiro ano de utilização.

Engº Agrº Evandro Nei Oliver